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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

XI PARTIDELA TRADICIONAL DA AMÊNDOA no Museu do Ferro

(clicar sobre o cartaz para AMPLIAR)

Mais uma vez se realiza esta recriação das antigas partidelas da amêndoa no auditório do Museu do Ferro. Trata-se de um convívio intergeracional aberto a toda a gente. Momentos de animação musical pela grandiosa Tuna Popular da Lousa, e representação teatral a cargo do grupo Alma de Ferro e Agrupamento de Escuteiros "Campos Monteiro" de Torre de Moncorvo.
Como era da tradição, no final será servida uma Merenda de produtos tradicionais, com o generoso patrocínio do Comércio local de Torre de Moncorvo.
Apareça!
Entrada livre.
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Organização: 
Museu do Ferro /Município de Torre de Moncorvo /PARM

Patrocínios:
- Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, patrocina merenda tradicional
- Adega Cooperativa de Torre de Moncorvo - vinho regional
- Arte Sabor e Douro, Moncorvo - produtos regionais
- Bazar Regional, Moncorvo - produtos regionais
- Casa Belchior, Moncorvo - produtos fumeiro
- Loja da Torre, Moncorvo - produtos regionais
- Padaria Miguel, Lamelas-Carvalhal - pão regional
- Pastelaria Broa de Mel, Moncorvo - doçaria regional
- Pastelaria Convívio, Moncorvo - doçaria e bolas de carne
- Pastelaria Seromenho, Moncorvo - doçaria e bolas de carne
- Queitec, Qtª. Branca, Larinho - Queijo regional
- Quinta das Aveleiras, Moncorvo - amendoa, vinho
- Restaurante “O Lagar”, Moncorvo - petiscos
- Restaurante “Botelho”, Carvalhal - refrigerantes
- Talho Moncorvense, Moncorvo - fumeiro
- Talho Carlitos, Moncorvo - fumeiro    

A Organização agradece penhoradamente aos nossos patrocinadores que, ano após ano, continuam a contribuir para que este evento seja um sucesso e a tradição da mesa farta ao fim da faina se cumpra como antigamente...


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Museu do Ferro & da Região de Moncorvo (parceria Município de Torre de Moncorvo /PARM) continua a promover esta antiga actividade, hoje quase caída em desuso: partir (ou "escachar") amêndoa - se ainda é desses bons velhos tempos, aproveite para matar saudades! - se nunca viu como era, esta é uma boa ocasião para experimentar.

No final, também como era costume, é servida aos participantes uma merenda de produtos regionais.
A iniciativa conta com o patrocínio do comércio local e é abrilhantada pela Tuna da Lousa.

É já no próximo sábado, à tarde (dia 27 de Outubro), mas com inscrições até sexta-feira, ao fim da tarde.

sábado, 21 de abril de 2012

Passeio pedestre à capela de Senhora da Esperança

Realiza-se amanhã um passeio pedestre à capela de Nossa Senhora da Esperança, organizado pela Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo (com a colaboração do PARM), conforme programa constante do cartaz acima.
Este passeio vem sendo realizado desde 2008, com objectivo de se recuperar a antiga tradição de se desfazer o folar, o que ocorria na Segunda-feira da Pascoela. Por se tratar de dia de trabalho, a retoma dessa tradição efectuar-se no Domingo imediatamente anterior. Todavia, tanto o ano passado como no presente, por questões climatéricas, a organização resolveu adiar a actividade para o fim de semana subsequente.
A concentração dos participantes deverá efectuar-se junto da sede da Junta de Freguesia de Moncorvo (ao lado do Cine-teatro), pelas 14;30 horas. Segue-se o percurso pedestre pelo caminho antigo (velho caminho de Santiago) até à capela da Senhora da Esperança, onde decorrerá o resto do programa.
PARTICIPEM!!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Palestra sobre Santa Bárbara, no Museu do Ferro


Momento de apresentação da palestra, no auditório do Museu.
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Realizou-se no passado dia 4 de Dezembro (dia de Santa Bárbara), no auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, uma palestra subordinada ao tema: "Apontamentos para uma Rota de Santa Bárbara no concelho de Torre de Moncorvo". Como se sabe, Santa Bárbara é a padroeira dos mineiros, dos artilheiros, bombeiros e profissões relacionadas com o fogo, sendo ainda a protectora contra as trovoadas. Esta correlação tem a ver com vários motivos relacionados com a vida desta mártir cristã, que terá vivido entre os finais do século III e os inícios do século IV.

Capela de Santa Bárbara do Larinho (século XVIII)

Segundo as fontes cristãs, Santa Bárbara nasceu em Nicomédia (actualmente Ismite, na Turquia), nas imediações do mar da Mármara e não muito longe de Constantinopla, para onde as suas relíquias foram levadas, sendo mais tarde (no séc. X) levadas, na sua maior parte, para Veneza. Santa Bárbara começou por ser encerrada numa torre, mandada construir por seu pai, motivo porque é normalmente representada por este atributo, além da palma de mártir. Tendo-se convertido ao Cristianismo, foi alvo de vários suplícios, que culminaram na execução pelo próprio pai, o qual, como castigo, foi de imediato fulminado por um raio.

Imagem de Santa Bárbara dos mineiros da Ferrominas, actualmente na igreja do Carvalhal

A relação com os mineiros baseia-se numa lenda medieval, segundo a qual a Santa teria sido escondida por mineiros no buraco de uma mina, algures na Grécia; outra hipótese, mais credível, é que Santa Bárbara, por ter sido executada sem os Sacramentos e tendo pedido a Deus que todos os que a ela recorressem, em situação de morte iminente, ficassem logo sacramentados, passou a ser a advogada de todos os que estivessem em situação de risco de morte repentina, como acontece com os mineiros.

Registo audiovisual de uma habitante de Açoreira, com reza a Santa Bárbara.

Em todo o caso, o culto de Santa Bárbara no concelho de Torre de Moncorvo, sobretudo a partir do séc. XVIII, tem mais a ver com o receio das trovoadas (e dos seus estragos na agricultura) do que com a actividade mineira, apesar de duas das capelas dedicadas à Santa, uma no Felgar e outra em Carviçais, se encontrarem sobre grandes montes de escórias de ferro (estes pontos poderiam atrair as faíscas, o que pode justificar essa localização). O único caso que tem a ver expressamente com a actividade mineira relaciona-se com a igreja nova do Carvalhal (dedicada a Santa Bárbara), pois esta povoação constituíu-se na expectativa do desenvolvimento das minas de Moncorvo, nos anos 80 do século XX. A imagem da patrona da igreja veio da antiga "capela" dos mineiros, improvisada numa das casas do bairro mineiro da Ferrominas, e terá sido adquirida nos anos 50 do século XX, para apoio espiritual aos mineiros. Aí chegou a celebrar missa o saudoso Padre Rebelo, apesar de os enterramentos se continuarem a fazer na sede da freguesia, que é o Felgar.

Texto, fotografia e vídeo: Nelson Campos /Museu do Ferro & da Região de Moncorvo

Apoio técnico: Patrícia Rainho (estagiária do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo), Rui Leonardo, Fátima Dias e António Botelho.

Agradecimento: às zeladoras das capelas de Santa Bárbara (Senhoras Domitília, Luzia, Manuela, Conceição Regedor Marcos, Eduarda Gabriel) e às Srªs. Maria da Conceição Monge, Drª. Patrícia Aires, Angelina Lopes (Açoreira), pelas disponibilidade e informações prestadas sobre as capelas visitadas.

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Para saber mais sobre Santa Bárbara, padroeira dos mineiros, ver: http://www.ordeng.webside.pt/Default.aspx?tabid=1761 - com alusão a uma palestra do Prof. Engº. Fernando Mello Mendes no I.S.T. de Lisboa. - Sobre o Engº. Mello Mendes, ver post de 13.08.2010, neste blogue.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Pascoela na Senhora da Esperança - reportagem

Aqui ficam algumas imagens da jornada da Pascoela de 2009, numa iniciativa da Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, com a modesta colaboração do PARM.

O Caminho faz-se caminhando... - Como antigamente, pelo caminho velho, com a vila de Torre de Moncorvo em plano de fundo (foto de N.Campos)

Os "peregrinos" aproximando-se da estrada da Açoereira, ainda pelo caminho velho... (foto de Luís Lopes)

E o povo foi-se juntando sob o alpendre da vetusta capela... (foto de Luís Lopes)

Momento para uma espreitadela ao interior - altar da Senhora da Esperança (foto de N.Campos)

Um festival para os mais novos, saltando à corda (foto de Luís Lopes)

Um jogador da malha, em grande estilo, executa o arremesso... (foto de Luís Lopes)

A malha quase acertava no pino! seriam 6 pontos... - Este é um jogo antiquíssimo, existindo centenas de malhas em xisto recolhidas na Vila Velha, vila medieval extinta, que está nas raízes da nossa vila da Torre de Moncorvo (foto de Luís Lopes)

A arraiola era um jogo de grande precisão e perícia que se jogava com moedas, muitas das vezes da época romana, ou então discos de chumbo (foto de Luís Lopes)

Era preciso colocar a moeda sobre a linha marcada na tábua, ou aproximá-la o mais possível. Quando o jogador se achava seguro de que não seria batido pelo jogador seguinte, pedia "tentos!"... As regras podiam variar de terra para terra, impondo-se um registo criterioso destes jogos e suas variantes (foto de Luís Lopes)

Enquanto isso, a pequenada entretinha-se noutros jogos tradicionais (foto de Luís Lopes)

Hora da merenda!!... (foto de N.Campos)
Ponto alto do programa: "desfazendo o folar" (foto N.Campos)
No final, foi desfeito o folar, com merenda farta, vinho e sumos a acompanhar!...
Apesar de se recuar para Domingo esta tradição que se realizava na Segunda da Pascoela, por este ser dia de trabalho, congratulamo-nos com a "ressurreição" deste costume antigo, que é um bom pretexto para se recuperarem outras tradições (como os jogos), um elemento da gastronomia pascal (o "folar"), a fruição de um elemento patrimonial multissecular (a capela), e, para além disto tudo, promover o convívio salutar entre os moncorvenses de todas as idades, de vários bairros e de todas as condições socio-profissionais.
Que para o ano haja mais, com mais participação ainda!

sábado, 18 de abril de 2009

Passeio da Pascoela para "desfazer o folar", na Senhora da Esperança

A tradição continua!
Aqui fica o cartaz-convite para todos participarem amanhã, Domingo (dia 19 de Abril), no Passeio da Pascoela para se “desfazer o folar” no adro da capela da Senhora da Esperança.
Para quem pretenda fazer o percurso a pé, como noutros tempos, pelo caminho antigo, a concentração é defronte da Junta de Freguesia (Avenida Engº Duarte Pacheco), com saída pelas 14;30h.
No adro da capela haverá jogos tradicionais, música, animação, convívio, enquanto se reconstitui a prática ancestral de “desfazer o folar".


Recorde-se que o retomar desta tradição foi sugerida pelo PARM à Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, o ano passado. Sendo esta Junta a proprietária da capela e porque não temos a veleidade nem a pretensão de nos substituirmos a outras entidades (o nosso papel é incentivar a recuperação das tradições e do património cultural em geral), entendemos por bem ser a Junta a ter um papel mais destacado nesta realização, continuando a disponibilizar-lhe o nosso modesto apoio e participação.

Aqui fica, portanto, o apelo aos nossos sócios para que participem também, como moncorvenses empenhados, neste convívio de profunda raiz popular.

Veja mais no blogue À Descoberta de Torre de Moncorvo: http://descobrirtorredemoncorvo.blogspot.com/2009/04/passeio-da-pascoela-para-desfazer-o.html

Aproveitamos também para recordar a realização do ano passado (2008):

http://parm-moncorvo.blogspot.com/2008/03/passeio-da-pascoela-dia-29-de-maro.html
http://parm-moncorvo.blogspot.com/2008/04/passeio-da-pascoela.html




segunda-feira, 13 de abril de 2009

Apresentação do filme: "Encomendação das almas": então foi assim...

10 de Abril, auditório do Museu do Ferro & da região de Moncorvo:

as lucernas marcaram o percurso na noite fria...

o realizador chega... (30 anos depois...)

mais dois moncorvenses ilustres: o grão-mestre da Confraria dos Gastrónomos e Enófilos e o autor dos textos do filme...

durante a exibição do filme, no auditório do museu...


momento de debate, no final, sobre a "Encomendação das Almas".

sexta-feira, 28 de março de 2008

A TRADIÇÃO DE “DESFAZER O FOLAR” NA REGIÃO DE TORRE DE MONCORVO

Informamos os nossos consócios e público em geral que se vai realizar no próximo Sábado, dia 29.03.2008, um percurso pedestre que designámos como Passeio da Pascoela, visto que nos inspirámos na antiga tradição moncorvense de se desfazerem os folares junto da capela de N. Srª da Esperança, a poucos quilómetros da vila de Torre de Moncorvo.

Capela de N. Srª da Esperança (pertencente à Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo)

Nesses tempos, este convívio era feito na segunda-feira da Pascoela, o que agora se torna mais difícil por causa dos horários de trabalho, pelo que optámos pelo passeio pedestre no Sábado.

Esta é uma iniciativa conjunta do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, tutelado pela Câmara Municipal de Torre de Moncorvo e pela associação do PARM, e da Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo.

A propósito deste evento, aqui ficam algumas notas sobre a sua razão de ser:


Segundo diz o saudoso Padre Joaquim Manuel Rebelo (1922-1995), nosso Mestre, no seu livro A Terra Trasmontana e Alto Duriense. Notas Etnográficas (1995): “Depois da Páscoa era a festa dos folares, em lugares geralmente junto de velhas capelinhas, que a fé dos nossos avoengos espalhou por vales e montes. / Na segunda-feira da Pascoela muitos habitantes de Torre de Moncorvo deslocavam-se, a pé, até à Senhora da Esperança, mas sobretudo, à Senhora da Teixeira, carregados com os seus farnéis. / Na Senhora da Teixeira (…) havia missa cantada e depois no adro dançava-se animadamente ao som dos acordes da filarmónica de Torre de Moncorvo ou do realejo e concertina e saboreavam-se, à sombra das amendoeiras, as merendas, onde as empadas recheadas do apetitoso presunto e do saboroso salpicão eram o principal manjar./ As azeitonas, o queijo e o vinho faziam o acompanhamento. / Ao entardecer, depois de um dia bem passado, a nível espiritual, físico e lúdico, mais um bailarico, uns beijinhos dos namorados, às escondidas, e regresso a casa com um voto de ‘qu’eu pr’ò ano lá hei-de-ir’.”

Depois de mencionar o caso de Urros, onde a romaria para se “desfazer o folar” se realizava na capela de N. Srª do Castelo (um antigo “castro”), acrescenta o Padre Rebelo que também “havia em Freixo de Espada à Cinta O Desfazer dos Folares. / Anos atrás, grande número dos seus habitantes iam para o lugar chamado Salto nas proximidades da barragem espanhola de Saucelle servindo-se de todos os meios de locomoção e aí comiam ‘o folar, fogaças, empadas, etc. acompanhadas da respectiva pinga’/ Não faltavam os bailes e descantes e alegria a jorros”.

Capela do extinto ermitério de N. Sª da Teixeira (freguesia de Açoreira)

Como vimos, pelo testemunho do Padre Rebelo, algumas pessoas de Torre de Moncorvo também iam desfazer os seus folares à capela de N. Srª da Teixeira (junto de Sequeiros), que era muito mais longe do que a Senhora da Esperança (e já noutra freguesia – Açoreira), embora se pudessem deslocar de de burro, ou de mula, ou a cavalo). A capela de Srª da Teixeira é conhecida pelos seus famosos frescos do século XVI, em mau estado de conservação, apesar dos nossos apelos junto dos serviços do património, tendo caído em saco roto um contacto que fizemos, em tempos, com o Instituto José de Figueiredo (depois Instituto de Conservação e Restauro, presentemente integrado no Instituto de Museus e Conservação), assim como junto da direcção do IPPAR, igualmente sem êxito. Sobre estas pinturas saiu publicado um livro de autoria do nosso consócio Eugénio Cavalheiro (Os frescos da Srª da Teixeira, editado por João Azevedo Editor, Mirandela, 2000). Para o caso que nos interessa, é de notar que a capela de Srª da Teixeira, que esteve associada a um antigo eremitério, era também conhecida por Senhora dos Prazeres (mais tarde ainda, por Santa Rita, por terem adquirido uma imagem desta Santa).

Fresco sob a abóbada do alpendre da capela de Srª da Teixeira (Almas do Paraíso)

Curiosamente, a Senhora dos Prazeres, culto que parece apelar aos sentidos, está igualmente presente na Senhora do Castelo de Urros e na capela de Santa Marinha de Felgueiras, onde se fazia (e faz) outra festa dos folares, na segunda-feira da Pascoela. Depois do tempo sombrio e abstinente da Quaresma, seguia-se o tempo da libertação, dos “bailes e descantes e alegria a jorros”, como escreveu o Pe. Rebelo.

Quanto à tradição de se comer o folar nos campos deve ser uma reminiscência de antigos cultos pagãos relacionados com a Natureza, que nesta época do ano renasce para um novo ciclo. É tempo de Primavera (embora, como diz o Povo, “Março marçagão, de manhã cara de riso, à tarde cara de cão”, ou, sendo Abril, "águas mil"), os campos tornam-se verdes, mosqueados de florinhas, num convite ao passeio, que em tempos remotos seria ritual, culminando num ágape propiciatório da abundância dos mantimentos essenciais à subsistência. E esses produtos estão bem sintetizados nesse manjar tipicamente trasmontano que é o folar: a farinha/cereais, os ovos, e a “chicha”, sobretudo a “chicha” de, com a sua licença, o “reco” (animal venerado pelos nossos avoengos proto-históricos, como o comprova o “berrão” que é emblema da nossa associação).

Vimos também que estas romagens de confraternização com os campos, a Terra, a Mãe-Natureza, nesta época do ano, não eram exclusivas de Torre de Moncorvo. Embora o Padre Rebelo não refira, também na freguesia de Açoreira se cumpria a tradição, não só na capela de Senhora da Teixeira (onde se reuniam também os de Sequeiros e até de Torre de Moncorvo), mas também na Santa Marinha, onde há poucos anos se retomou a tradição que esteve meio apagada. Aqui se junta sobretudo o povo da Açoreira, desfazendo os farnéis à sombra das oliveiras e amendoeiras e a festa prolonga-se pela tarde, com bailaricos e jogos populares.

Ainda no concelho de Torre de Moncorvo, também Urros, na segunda-feira da Pascoela, se realizava (e realiza ainda, segundo nos informou a nossa consócia Bina Martins) a romaria à capela de N. Srª do Castelo, onde se desfaziam os folares. Como dissemos, tal como na Srª da Teixeira, nesta capela também era venerada a Srª dos Prazeres, sendo de notar a persistência deste culto associado a lugares onde se comia o folar na Pascoela. Do mesmo modo, o culto de Santa Marinha, que, para além da Açoreira, tem em Felgueiras uma capela (onde nos parece que também se reverencia a Srª dos Prazeres), e onde igualmente se “desfaz o folar” na segunda-feira da Pascoela. No caso de Felgueiras, esta era a grande festa dos moleiros, cujos moinhos jazem em ruínas junto da ribeira que recebe o nome desta capela (ribª de Santa Marinha, afluente da ribª de Mós). Sem interrupções, a tradição continua a realizar-se em Felgueiras, embora agora se faça no Sábado que precede o Domingo da Pascoela (fim de semana a seguir à Páscoa), pelas mesmas razões que nós antecipámos dois dias relativamente ao dia de preceito, ou seja, por segunda-feira ser dia de trabalho.

Como vimos, só na nossa região, havia (e continuam a manter-se) vários casos da tradição de se “desfazer o folar” na 2ª feira da Pascoela, apesar de agora se recuar a sua realização por causa dos dias de trabalho ditados pelos calendários rígidos impostos por um Estado Central que não entra em conta com as tradições locais (de que, noutro plano, é “bom” exemplo a célebre ASAE). Por outro lado, somos um povo pouco dado à preservação de certas tradições, sobretudo nos centros urbanos e semi-urbanos. No caso de Torre de Moncorvo, a última vez de que nos recordamos de haver uma reunião alargada e organizada, para se “desfazer o folar” foi nos meados dos anos 80 do século XX, tendo ocorrido na Srª da Teixeira, com algum impulso do Pe. Rebelo, que por essa altura havia reeditado uma monografia sobre aquele ermitério, escrita pelo Padre José Augusto Tavares nos inícios do séc. XX.

Provando que esta tradição deveria estar amplamente generalizada, talvez por toda a Península Ibérica, nas regiões onde o Cristianismo assimilou e ajudou a “fixar” as tradições pagãs ancestrais, vemos que em Salamanca, a grande cidade universitária castelhana, também existe a tradição de se desfazer o folar, a que chamam “el hornazo” (de “horno” = forno), mantendo-o, ainda hoje e sempre, na mesma segunda-feira da Pascoela, a que chamam o dia de “Lunes de águas”, como desde há anos nos conta o nosso amigo salmantino Angel Garcia. Nesse dia, em Salamanca, é feriado na cidade, porque toda a gente vai desfazer os “hornazos” pelos campos… É a diferença que nos separa dos povos civilizados que, sendo grandes (e talvez por isso), colhem nas suas raízes a razão de ser da sua grandeza… Daí o nosso esforço na preservação da nossa essência, promovendo, ao mesmo tempo, o convívio, a solidariedade, o bem-estar inerente também à dimensão lúdica (e gastronómica), quiçá o tal “Prazer” que nos dava a Deusa, cristianizada em Senhora dos Prazeres, porque os Antigos sabiam que sem Felicidade e bem-estar não há povo que seja produtivo, nem economia que se salve, nem Homem que seja construtivo…
N.R.