Mostrar mensagens com a etiqueta Mós. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Mós. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 2 de junho de 2011

AAACCM em visita a Mós

No passado domingo, dia 29 de Maio, a Associação dos Antigos Alunos e Amigos do ex-Colégio Campos Monteiro de Torre de Moncorvo, promoveu uma visita a Mós, no âmbito do seu convívio anual.
A convite da direcção da AAACCM, a visita foi guiada por um elemento da direcção do PARM e pelo Presidente da Junta de Freguesia, Sr. Paulo Bento, tendo-se seguido uma proposta de roteiro do Dr. Carlos Sambade, mozeiro ilustre e membro das associações referidas. Foram percorridos os principais recantos da antiga vila de Mós, onde ainda se respira o ar dos tempos medievos, apesar do processo de ruína de muitos imóveis e alguma descaracterização de uns poucos. Como se concluíu da visita, impõe-se um plano de salvaguarda, recuperação e valorização desta belíssima povoação, que bem merece ser acarinhada.
Aqui fica um breve registo:
A viagem no tempo principiou pelo pelourinho, símbolo de uma municipalidade firmada pelo senhor rei D. Afonso Henriques em 1162, e abatida em 1836 (ano em que o concelho de Mós foi integrado no de Torre de Moncorvo).
Deambulando pela viela que atravessa o "castelo", ou seja, a velha cerca medieval.


Ao lado da antiga casa da câmara (hoje sede da Junta de Freguesia), a velha cadeia da vila.


Casas interligadas por construção em madeira, sobre uma viela, solução arquitectónica característica de tempos recuados.


Visitando a capela de Santa Cruz (obra do século XVIII), graças à solicitude das mordomas que prontamente acorreram com a chave!


Na Santa Cruz, apesar de muito "modernizada" por dentro, venera-se um precioso Crucifixo emoldurado por singelo retábulo de talha do século XVIII.


Por vezes o cimento soergue-se da harmonia do xisto ancestral. Como remediar estas notas dissonantes?


Nova construção utilizando a pedra da região, ao menos no revestimento. - Exemplos a seguir.


Depois da volta, que incluíu ainda uma visita ao santuário de Santa Bárbara, rua de Baixo, rua dos Olminhos, Quebra-cús, igreja matriz, eis que se regressa à praça, ponto de partida do passeio. Ao longo do trajecto os guias foram identificando os espaços e referindo diversos aspectos da história da localidade, nomeadamente as recentes escavações arqueológicas realizadas na necrópole situada junto da cabeceira da igreja, e onde surgiram ossadas de enterramentos medievais (trabalhos realizados pela empresa ArqueoHoje em 2007).


A jornada terminou na "domus municipalis" (casa do município) de Mós, onde a Junta de Freguesia ofereceu um excelente aperitivo, fazendo jus à hospitalidade trasmontana.





Txt. e fotos de N.Campos

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Mós, "en vol d'oiseau"

No seguimento da nossa visita a Mós, no passado Sábado (6.11.2010), participando na iniciativa do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, sobre o tema "Mós, antiga vila medieval - Arqueologia, História e Património", aqui ficam algumas imagens desta encantadora terra, merecedora de uma visita:

Fachada do edifício da Junta de Freguesia de Mós, antiga casa da Câmara até 1836, servindo mais tarde de escola primária. À esquerda, em 1º plano, casa da família Pombo, de traça erudita, talvez do séc. XVII, reclamando obras urgentes, tal como muitas outras do núcleo histórico de Mós.


Aspecto da exposição sobre o património do concelho de Torre de Moncorvo, onde se mostram alguns valores patrimoniais de Mós. Em 1º. plano, ao meio, a bandeira da freguesia de Mós, com respectivo brasão: castelo rodeado de três mós de ouro em fundo azul.

Capitel do pelourinho que foi reconstituído há pouco mais de uma dúzia de anos. Este era um dos símbolos do antigo município de Mós, onde se executava a justiça.

Praça de Mós. - Atrás daquelas casas ficava o castelo, de que restam hoje parcos vestígios. Aqui se faz, pelo Natal, uma imponente fogueira do galo, como se nota pela mancha queimada no pavimento.

Fonte de mergulho, talvez ainda da Idade Média.

Recanto acolhedor, entre vielas, onde se pode beber um copo na esplanada do "Campeão".

Nas imediações de outra tasquinha, junto à Praça, não falta o assador e o pipo, onde em távola de madeira dá a volta o canjirão.

Típica varanda trasmontana de uma bela casa tradicional.

Um relógio de sol, ainda no seu lugar, já não marca a hora. Aqui o Tempo parece ter parado e isso pode ser (ainda) uma vantagem. Há que saber acertar a hora da modernidade com a da Tradição e da História, porque isto são mais-valias de que nem todas as terras se podem gabar.

Agradecemos a hospitalidade da Junta de Freguesia e do povo de Mós.
.
Txt. e Fotos N.Campos/PARM.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Escorial de S. Pedro (Mós) - revolvimento profundo


Uma das marcas mais características da actividade metalúrgica de produção de ferro, no concelho de Torre de Moncorvo são os escoriais. As escórias eram a parte rejeitada no processo de fundição, por aí se concentrarem mais elementos não ferrosos e bolhas de ar.

Escoriais de ferro, em redor da Serra do Roboredo. A seta indica o escorial de S. Pedro (mapa disponível no Museu do Ferro, public. no respectivo Catálogo, edit. em 2002)

Em redor da serra do Roboredo e em certas povoações como Felgueiras, Felgar, Souto da Velha, Carviçais e Mós, são frequentes estas concentrações de escórias de ferro, chamadas popularmente "escouradais". É de supor que nesses locais, no subsolo, se encontrem alicerces de fornos de fundição e outros vestígios, pelo que foram incluídos, há anos, no inventário do património do concelho de Torre de Moncorvo.

Terreno onde se encontrava o escorial, agora revolvido. Ao fundo encontra-se a capela de S. Pedro (fotografia de João Pinto V. Costa)

Um desses escoriais era o que se encontrava próximo da capela de S. Pedro, freguesia de Mós, num terreno onde estava um amendoal. Passando recentemente pelo local, vimos que este tinha sido completamente surribado, pelo que todo o subsolo foi afectado, perdendo-se irremediavelmente toda a informação arqueológica eventualmente existente.

Algumas escórias de ferro ainda visíveis no terreno (foto de João P. V. Costa)


Embora não sabendo a cronologia de muitos desses escoriais, sabemos que são anteriores ao séc. XIX, pois a actividade metalúrgica ancestral terá terminado, na nossa região, nos fins do séc. XVIII, com a expansão da Revolução Industrial em Inglaterra e, depois, nos países mais desenvolvidos da Europa.
No caso de Mós, sabemos que a exploração do ferro remonta, pelo menos, ao século XVI, pois que o Dr. João de Barros, na sua Geografia de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes (1549), refere aí o fabrico do ferro, com o pormenor curioso de as mulheres estarem a dobar e a fiar nas suas rocas (com as mãos), e ao mesmo tempo, tangerem "com os pés os folles, enquanto os maridos fazem o ferro".

Por este motivo, e já que aqui "o ferro é a alma da terra", impõe-se a classificação urgente de todos os escoriais de ferro como Valores Concelhios, após a definição das respectivas áreas de dispersão de vestígios.

Ronda pelo concelho - a antiga villa de Mós

Dando continuidade à ronda pelo concelho (iniciada em Felgueiras - ver "post" de 14.04.2008), calhou agora uma visita à antiga vila de Mós, realizada numa manhã domingueira, por dois associados do PARM, aproveitando o bom tempo para um registo fotográfico.

Vista geral do monte do Castelo, com a igreja do lado esquerdo (foto N.R.)


Mós, a antiga Mollas, é detentora de um dos forais mais antigos da região (pouco depois do de Freixo de Espada à Cinta), doado por D. Afonso Henriques em 1162. Aí existem ainda vestígios de uma cerca medieval (o Castelo), um pelourinho reconstituído há poucos anos, uma fonte de mergulho (talvez medieval), a antiga casa da Câmara e tribunal (actual Junta de Freguesia), a cadeia. A igreja, embora com fachada e sineira do século XVII, possui ainda uma estrutura próxima da arquitectura românica, com espessos contrafortes laterais. Na fachada principal, é de anotar um óculo gótico, ladeado e encimado por inscrições datáveis desta época (quiçá séc. XV).

Novo muro do adro, construído após o alargamento da rua, e depois de escavação arqueológica de sepulturas medievais (foto N.R.)

Foi pena que se tivesse destruído a Casa da Roda dos expostos (ocorrida talvez nos anos 80) e outros edifícios antigos, nomeadamente a antiga botica e uma casa com vestígios religiosos ao cima da rua dos Olminhos. Mais recentemente foram cortadas algumas sepulturas medievais escavadas no afloramento de xisto sob o adro da igreja, aquando do alargamento da rua de acesso à povoação, o que motivou escavações de emergência por parte de uma empresa de arqueologia de Viseu. Sabe-se que se encontraram ossadas e outros vestígios, aguardando publicação. É de salientar que o muro foi reconstruído utilizando o xisto da região.

Três símbolos do antigo município de Mós: Pelourinho (reconstituído); antigo Tribunal e casa da Câmara (actual sede da Junta); e a Cadeia. (fotos de N.R. e João Pinto V. Costa)


A velha fonte de mergulho da rua dos Olminhos (foto de João Pinto V. Costa)

Em dado momento, no século XV, tendo em vista o repovoamento de terras tão agrestes, foi aqui constituído um couto de homiziados (território onde se podiam albergar os foragidos à justiça do rei).
Que os costumes eram violentos sabemo-lo, não só pela existência da forca (atestada na toponímia) e do pelourinho, mas também pela existência de um freio de maldizentes, idêntico a outro guardado no Museu Abade de Baçal (Bragança), e que consistia numa peça em ferro que se aplicava na cabeça do(a) sentenciado(a), com uma lingueta que lhe travava a língua. O meirinho deveria depois encarregar-se de passear o réu (ou ré) pelas ruas, com uma arreata, expondo-o à execração pública.

Rua da Cadeia (à esquerda) e bairro do Castelo (ao fundo). Em 1º plano, destelhado, antigo lagar de vinho (foto de João Pinto V. Costa)

Pormenor do lagar anteriormente referido (foto de João Pinto V. Costa)

No Arquivo Histórico de Torre de Moncorvo existe um livro das contas da Câmara de Mós, datado do século XV, além de outros documentos. O concelho de Mós era composto pelo seu próprio termo e o de Carviçais e possuía, além das povoações principais, diversas quintas, tais como Centieeiras, Odreira, Martim Tirado e muitas outras hoje abandonadas. Felgar e Souto da Velha também pertenceram a Mós, mas só até ao final do séc. XIII.
Com a reforma administrativa de 1836, o concelho de Mós acabou integrado no de Torre de Moncorvo.

Casas tradicionais, na rua de Baixo (foto de João Pinto V. Costa)

No entanto, Mós conserva ainda o fácies de uma antiga vila medieva, com um belíssimo casario de xisto, combinando a pedra e a madeira, tal como há muitos séculos atrás. Além disso, tem o maior interesse a rede ou malha urbana, com a zona do castelo, a praça, as ruas principais com as suas vielas estreitas, tendo como pavimento a própria rocha (em alguns casos desaparecida sob os inefáveis "paralelos").

Casa tradicional em pedra e madeira com ripamento para suporte de tabique; à esqª., escaleiras escavadas na rocha (foto de João Pinto V. Costa)

Casas belíssimas, de pedra, da cor do tempo... (foto de João Pinto V. Costa)

Há intervenções recentes que, mesmo que não sejam muito conseguidas, se destacam já da demolição+reconstrução em tijolo ou blocos de cimento (as tais"maisons" dos anos 70-80), ou então do reboco de cimento sobre as paredes antigas. Verificámos com agrado dois telhados novos suportados em vigamento de madeira tratada, embora num dos casos talvez pudesse ser evitada a pequena laje de betão de uma varanda. Mas já é positivo que a fachada da casa se mantivesse em pedra e não houvesse outras alterações.

- Atenção: nos casos apontados, desconhecemos em absoluto quem são os proprietários em causa, pelo que as nossas apreciações são de mera crítica construtiva ou de estímulo para que se faça mais e melhor. O terem preservado estas casas evitando a sua ruína, já é para nós um motivo de satisfação, pelo que os felicitamos.

Nota positiva: telhado reconstruído recentemente, já que é sempre pelo telhado que a ruína começa (foto João Pinto V. Costa)

Como é lógico, não pretendemos que as pessoas vivam aqui como na Idade Média, mas que possam melhorar as suas condições de vida, melhorando sobretudo o interior das suas habitações, mas procurando manter o exterior, visto que se a povoação conseguir preservar ainda um bocadinho desta imagem, terá um trunfo para atrair visitantes, sobretudo tendo em conta o seu passado tão rico.

Nota positiva: reconstrução de telhado da casa + alpendre e que se tenha mantido o aspecto da casa, com a pedra à vista; benefício da dúvida: talvez ficasse melhor o gradeado em madeira, ou em ferragens verticais; nota negativa: laje de cimento (foto N.R.)


Apesar de tudo, Mós merece uma visita atenta em busca do seu património, lamentando que algumas construções tradicionais estejam a cair em ruína (sinal destes tempos de desertificação e abandono). Daí que nos atrevamos a propor, a quem de direito, um plano de reabilitação e salvaguarda (com enterramento dos cabos telefónicos e eléctricos do centro histórico), aproveitando esta última oportunidade do tão badalado QREN... Título para um projecto desta natureza, talvez: "Mós - villa medieval". - Esta designação poderia ainda fazer parte de um plano de marketing, a desenvolver posteriormente, para atrair visitantes e, sabe-se lá, residentes sazonais.