sexta-feira, 28 de março de 2008

Passeio da Pascoela, dia 29 de Março - Programa

Conforme dissemos no "post" anterior, será realizado no próximo Sábado, dia 29 de Março, um Passeio da Pascoela, organizado pelo Museu do Ferro & da Região de Moncorvo/Câmara Municipal de Torre de Moncorvo/PARM e Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo.

Aqui fica o programa, com alguns apontamentos à margem:

15;00 horas - Concentração no Jardim Municipal Dr. Horácio de Sousa, de todos interessados em participar nesta jornada;

15;15 horas - início da marcha, a pé, pela rua de Sant'Iago, cortando ao lado do cemitério para as Aveleiras e tomando o caminho velho para a Senhora da Esperança. - Este seria o trajecto mais antigo que os moncorvenses tomavam para a Srª da Esperança, antes de haver a Estrada Real (do século XIX) depois designada por E.N.220. O caminho velho, de origem medieval, ia da vila da Torre de Mem Corvo ou Mencorvo (como dantes se dizia e escrevia) para o Pocinho, no Douro, que era atravessado numa barca, com destino às terras do Sul, pelas Beiras. Pouco antes da Srª da Esperança, havia um desvio, por outro caminho que levava quer à Açoreira, quer à barca do Peredo dos Castelhanos, pela Srª da Teixeira e Santa Marinha. Estas capelas, tal como a de Srª da Esperança, possuem alpendres para abrigo dos viandantes ou peregrinos colhidos por alguma chuvada, ou simplesmente pela noite, onde pernoitavam. São, por isso, Caminhos de Santiago, que passavam por Torre de Mencorvo, o que explica o facto de este ter sido o primeiro orago (padroeiro) da vila. Nos meados do século XIII, no tempo em que a sede do concelho ainda era na "Vila velha" (Santa Cruz da Vilariça), existia já uma aldeia chamada Torre de Mendo Corvo com uma igreja dedicada a Santiago, a qual ficava junto da entrada actual do cemitério (cujo portão tem a data de 1869). Foi depois chamada de Santo Cristo (daí o nome de um olival, mais abaixo, onde viria a surgir o bairro deste nome, nos anos 70 do século XX) e finalmente demolida por volta de 1880. Os únicos testemunhos que ficaram foram o topónimo Santiago, aplicado à rua que vai do Jardim até ao cemitério e uma escultura medieval do Santiago Mata-mouros, que foi colocada sobre a Fonte de Santiago. Esta escultura é muito anterior à fonte filipina (do séc. XVII) e para ela chamámos a atenção, nos idos anos 80 (ver livro Alto Douro-Douro Superior, de F. de Sousa e Gaspar M. Pereira, Presença, 1988). Eis a razão da nossa proposta para este trajecto: reconstituir o percurso do Caminho de Santiago, e, ao mesmo tempo, retomar a tradição de "desfazer o folar" (é uma espécie de 2 em 1!)

16;15 h - Visita à capela de N. Srª da Esperança, convívio e merenda. - Como dissemos atrás, a capela de N. Srª. da Esperança fica situada ao lado do antigo caminho medieval que ia de Torre da Moncorvo para o Douro, o qual atravessava o adro e seguia pela cumeada deste braço da serra, atravessando a actual E.N. 220 junto de um eucalipto da Qtª da Ventosa. É uma construção singela, mas de grossas paredes, assente sobre um afloramento rochoso. Tem um pórtico em arco quebrado (ogival) o que, a par de outros elementos, nos faz pensar que a sua construção remonta ao fim da Idade Média (século XV). A capela-mor destaca-se da nave através de um arco triunfal com aduelas em granito, decorado com motivos perlados. Durante obras realizadas nos finais dos anos 80 do século XX, descobriram-se, no interior da capela-mor, sob a cal, umas pinturas a fresco representando frades e outros motivos, de grande perfeição e com alguma semelhança com as de N. Srª da Teixeira. Alertámos então o Instituto Português do Património Cultural e o Instituto José de Figueiredo (ligado à conservação e restauro) e propusémos a classificação da capela como Imóvel de Interesse Público. Este processo arrastou-se durante anos, tendo como desfecho a não classificação, porque, entretanto, as pinturas voltaram a "desaparecer", ou sob a tinta plástica, ou picadas e rebocadas, apesar do apelo que fizemos junto do então presidente da Junta. Em boa hora a actual presidente da Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, com o apoio do município, está a cuidar de outra maneira o património desta instituição, como se pôde ver pela exposição "Memórias de Fé" de que demos conta num "post" anterior. Poderíamos dizer: "sinal dos tempos!", se não se continuassem a fazer por aí tantos atentados que até parece que isto é mais sinal da sensibilidade de quem está à frente das instituições, do que propriamente dos tempos...


Aproveitamos para referir que a exposição "Memórias de Fé", promovida pela Junta, com algum apoio técnico do PARM, foi o corolário de um inventário de arte sacra e alfaias religiosas, desenvolvido pelo Dr. Luís Miguel Lopes (também nosso associado) e pode ainda ser visitada no Centro de Memória (na rua Visconde de Vila Maior, em Torre de Moncorvo). Aí se encontram, por exemplo, as imagens dos Santos da capela de Srª. da Esperança, o que torna ainda mais pertinente esta visita.

Voltando à N. Srª da Esperança, temos que dizer que não era só na Pascoela que os moncorvenses acorriam a este lugar. Por alturas do Outono aqui se fazia também uma festa dedicada à patrona da capela, como se depreende da narrativa do nosso escritor Campos Monteiro (1876-1933), intitulada "A tragédia de um coração simples" (in Ares da minha serra, 1ª ed. 1933): Logo no início da história aparece a cobrideira de amêndoa ti'Ana, trabalhando à porta de casa, e preparando uma encomenda de nove arrobas de amêndoa coberta para a dita festa. E, mais tarde, depois de injustamente preso, vemos o João Caramês, muito triste, espreitando pelas grades da cadeia os foguetes que estralejavam na noite, na festa de Senhora da Esperança. Por estas passagens depreende-se que a festa ainda se fazia nos inícios do século XX.
N.R.

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Esperamos que nos acompanhe, no próximo Sábado, nesta jornada que, da nossa parte, se pretende cultural, lúdica e desportiva, independentemente de motivações íntimas de cada um
(referimo-nos ao aspecto devocional, que obviamente devemos respeitar).


Por razões logísticas, agradecemos que proceda à sua inscrição até ao dia 28 (sexta-feira), através dos contactos do Museu do Ferro (tel. 279 252 724) ou Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo (tel. 279 252 689).

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