segunda-feira, 14 de abril de 2008

O fim das calçadas de “pedra ferrenha”

Uma das imagens de marca da vila de Torre de Moncorvo, assim como de algumas aldeias mais periféricas da serra do Roborêdo, eram as ruas pavimentadas (calçadas) com a famosa “pedra ferrenha” (nome popular para a hematite, o nosso minério de ferro).
Já no século XVI o geógrafo João de Barros, na sua Geografia de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes se referia a “huma calçada toda em ferro” que ia de Torre de Moncorvo para Mós. Esta calçada era o caminho velho que ia pela base da serra, principiando ao lado da capela de S. João Baptista (actualmente de N. Srª. de Fátima), mais adiante junto da de N. Srª. da Conceição e casa dos serviços florestais, seguindo pelo Calhoal, Qtª. de Mindel, fonte de Lamelas, etc.. O troço calcetado a hematite ia, pelo menos, até ao Calhoal, tendo sido parcialmente substituído, há uns anos, por asfalto.

(Torre de Moncorvo - em 1º. plano, aplicação recente de calçada de hematite)

Na vila de Torre de Moncorvo, no bairro do Castelo, há cerca de 30 anos, eram ainda as ruas pavimentadas com hematite. Em nome do santo “Progresso”, foi esse pavimento removido e/ou asfaltado por cima. Os poucos restos que sobraram, em três becos, foram há cerca de 15 anos substituídos por cubos de granito, vulgo “paralelos”, o que motivou um protesto da nossa associação, com a recomendação de se reutilizar a hematite em passeios ou em locais onde não “prejudicassem o andar”, sobretudo de senhoras com saltos altos, pois foi esse o argumento que nos deram para a referida substituição. Talvez em consequência disso, foi reutilizada a hematite na praça General Claudino (antigo largo do Rossio, ou “praça das regateiras”).

Havia ainda uma “aldeia gaulesa” onde as calçadas de hematite resistiam, bem no coração da grande montanha de ferro: Felgueiras.

Felgueiras, era uma "aldeia ferreira" no coração da serra do Roborêdo.

As ruas sinuosas, uma certa quantidade de casas de xisto com os típicos balcões, alguns ainda de madeira à boa maneira medieval, as escórias de ferro que documentam uma actividade metalúrgica ancestral apesar das forjas já desaparecidas, o velho lagar da cera, o misticismo de ter sido uma terra de mercadores, almocreves, cereeiros, ferreiros, moleiros, tudo isto associado às últimas calçadas de pedra ferrenha, faziam desta terra um potencial pólo de atracção turística no nosso concelho. Mas, quando paulatinamente se vão subtraindo os poucos motivos de interesse que tornavam característica esta aldeia, tornando-a cada vez mais igual a tantas outras, é a galinha dos ovos de ouro que se vai matando…


Um conjunto de casas antigas existiu neste largo, agora pavimentado com "paralelos".

Depois de se ter derrubado um quarteirão de casas antigas, onde estava uma casa que, segundo a tradição popular, pertencera a judeus, por ter um pentalfa (estrela de 5 pontas), talvez um disfarçado signo-saimão (a israelita estrela de 6), e se ter adulterado aí a malha urbana, ela própria elemento patrimonial, veio agora a vez de se fazerem desaparecer as calçadas de hematite, substituídas pelos clássicos “paralelos”… Agora é caso para se contar assim a história: Era uma vez uma aldeia “sem paralelo” entre as demais!... ou então: Felgueiras, onde o Ferro foi a alma da terra


Uma viela onde a calçada de pedra ferrenha agora cedeu lugar ao granito, numa terra de xisto e ferro.

Das velha calçada de hematite sobrou este vestígio, numa escaleira que leva à fonte da ribeira.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ainda que pusessem calçada de paralelos só na rua principal, bem podiam deixar estar nas outras....
deve ser pra ganhar votos para as próximas...

PARM disse...

Agradecemos o comentário do nosso leitor e concordamos quanto à primeira parte. No que respeita à parte opinativa não queremos fazer censura, mas agradecíamos que os leitores, associados ou não do PARM, se identificassem, para nos pouparem alguns problemas, pois sabemos da delicadeza destas questões e a facilidade com que se confunde a opinião (legítima) do cidadão com tomadas de posição de natureza política ou pessoal. - A associação é a-política e não fomenta questões pessoais. Por isso, nas três opções que se encontram em baixo: OpenID, Nome/URL e Anónimo, agradecíamos que clicassem em Nome/URL e escrevessem o nome no 1º rectângulo onde diz: Nome de Utilizador. Obrigado.
A Direcção.

Anónimo disse...

Caros amigos (WEBMASTER`S DA PARM), esse é o problema da maior parte do pessoal, no blog de Mós após o acesso nos motores busca, começarem a aparecer comentários de pessoas indgnas com a cultura, não se identificando, pretendendo-se afirmar politicamente, mas como disse e torno a dizer, no blog sobre Mós e o concelho de Torre de Moncorvo (17 localidades) nunca mas nunca será publicada qualquer mensagem com cariz politico, nem comercial (publicidade de marcas) publicidade de aberturas de centro educativos sim entre outros que defendam a cultura, e a natureza.
Assim nos blogs que sejam para divulgar a nossa terra, nunca premetirei comentários impróprios e menos dignos, façam isso no vosso, porque por vezes existem cibernautas que só pensam em protagonismo mas no anonimato. Obrigado continuem a divulgar o nosso concelho, porque vozes de certas pessoas não chegam onde eles querem.

LOPES - Setúbal