domingo, 20 de abril de 2008

Santuário de Panóias, Vila Real - inauguração da Sala Prof. Santos Júnior

No seguimento do "post" anterior, aqui fica o registo do momento solene da inauguração da Sala do Professor J. R. dos Santos Júnior, no Centro Interpretativo do Santuário de Panóias (concelho de Vila Real), a qual teve lugar no dia 18.04.2008, Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. Presidiram à cerimónia a Srª. Directora Regional da Cultura do Norte, Drª. Helena Gil, o Sr. Governador Civil de Vila Real, Dr. António Martinho, o responsável pelo monumento no âmbito do Serviço de Bens Culturais da D.R.Cultura/Norte, Dr. Orlando de Sousa e o representante da família do Prof. Santos Júnior, Sr. Norberto Santos.

Na sua breve intervenção, o Dr. Orlando Sousa explicou que esta homenagem a Santos Júnior se explicava pelo seu contributo para o conhecimento de Panóias, ao descobrir o documento mais antigo referente a este monumento, datado de 1721, e que é a memória elaborada pelo Pe. António Gonçalves de Aguiar, pároco de Vale Nogueiras. Esse documento esteve desaparecido, até que o Prof. Santos Júnior o localizou, na Biblioteca Nacional (Lisboa), no meio de documentação referente a Vila Flor e Torre de Moncorvo. Disse ainda Orlando Sousa que até então se considerava a descrição de D. Jerónimo Contador de Argote, contida na obra Memórias Históricas do Arcebispado de Braga (1732-1747), como sendo a primeira conhecida, ilustrada com várias gravuras das fragas, com cavidades e inscrições, de resto pouco fiáveis, pois este autor não esteve sequer em Panóias, tendo utilizado a descrição do Pe. António G. de Aguiar.

Gravura representando uma das fragas de Panóias, na obra de Contador de Argote, 1732.

Após o descerramento de uma placa com o nome da Sala Santos Júnior, foi visionado um filme explicativo sobre Panóias, essencial para se compreender o monumento. Com este conhecimento prévio o visitante será depois acompanhado por um dos guias que fazem simultaneamente a guarda deste imóvel.

Vista geral do recinto do Santuário, vendo-se o Centro Interpretativo à direita. Foto N.R. 18.04.2008

Do folheto explicativo retiramos o seguinte: "o santuário de Panóias (monumento denominado durante muitos anos 'Fragas de Panóias') foi construído entre finais do século II e princípios do século III d. C.. É constituído por um recinto onde se encontram, entre outros, três grandes penhascos, havendo sido escavados nos mesmos várias dependências de diversos tamanhos, assim como escadas de acesso. Esta rocha, que denominamos nº 1, situada à entrada do recinto, é a que possui as inscrições conhecidas, e que chegaram até nós, se bem que uma delas, ainda existente no séc. XIX, tenha sido entretanto destruída. // Existem três inscrições em latim e uma em grego, e nelas constam as instruções dos rituais celebrados em Panóias, a identificação dos deuses e a do oferente. // A inscrição desaparecida, também em latim, reconstituída a partir de leituras e registos anteriores, pode traduzir-se da seguinte maneira: "Aos Deuses e Deusas deste recinto sagrado. As vítimas são sacrificadas, são executadas neste lugar. As vísceras queimam-se nas dependências quadradas em frente. O sangue verte-se aqui ao lado nas pequenas cavidades. Estabelecido por Gaius. C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial".

Pormenor de rocha com encaixe de construção e cavidades para os ritos. Foto N.R.

As outras inscrições descrevem os ritos que se praticavam nas restantes fragas, onde se encontravam outras cavidades e templetes, dedicados aos Deuses Severos e ao altíssimo Serápis (um deus da medicina, de origem oriental). Aí se purificavam os peregrinos, alguns enfermos, buscando protecção contra as suas maleitas. Os estudiosos admitem a possibilidade de o local já ser um recinto sagrado antes da época romana, ou seja, antes do alto funcionário romano Gaio Calpúrnio Rufino aí ter introduzido o culto de Serápis.


Pormenor da rocha 1, com cavidades rituais e inscrição muito delida pelo tempo, Foto NR.


No concelho de Torre de Moncorvo, no sítio arqueológico do Baldoeiro, sobre o Penedo do Corvo, existem algumas cavidades e entalhes picados na rocha que alguns autores de inícios do século XX (entre os quais Santos Júnior) compararam com o santuário de Panóias. Se bem que seja possível que estes entalhes possam corresponder a uma torre roqueira da Reconquista, eventualmente edificada sobre o penedo, há uma ou duas pequenas cavidades cuja função é inexplicável, pelo que poderá corresponder, efectivamente, a um santuário pré-romano associado ao culto ofiolátrico (de serpentes), devido a uns gravados serpentiformes que aí também existem.


Pelos mistérios que estes sítios encerram, aqui fica uma proposta de visita. Se bem que o Baldoeiro não esteja devidamente valorizado para apresentação ao público(como pretendemos), já sobre Panóias poderá marcar a sua visita ligando para o telef. nº. 226197080. O monumento está aberto de 3ª feira até Domingos, entre as 9;00-12;30 horas, e das 14;00-17;30h. Apenas a 7 km de Vila Real, com acesso pela estrada que vai para Sabrosa, por Mateus (EN 322).


Para saber mais sobre o Santuário de Panóias:
http://www.ippar.pt/monumentos/sitio_panoias.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santu%C3%A1rio_de_Pan%C3%B3ias
http://www2.ufp.pt/~slira/Projectos/panoias/guiao.pdf http://www.arqueotur.org/yacimientos/santuario-de-panoias.htmlhttp://www.youtube.com/watch?v=1tWEu3-2Lyw (excerto do filme)

Se quiser saber mais sobre o Prof. J. R. dos Santos Júnior, visite o Centro de Memória de Torre de Moncorvo, onde se encontra a sua biblioteca e arquivo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Sou provávelmente entre muitos, um dos que não conhecendo o "Santuário de Panóias" estaria interessado em o visitar, por isso sugeria ao PARM que organizasse uma visita guiada (um sábado )para os seus associados e outros que eventualmente quisessem partilhar deste conhecimento tão próximo e importante da nossa região rica neste género de espólio e ao mesmo tempo tão desconhecido. Fica o repto...

Eduardo Carvalho Sócio do PARM

Anónimo disse...

Caríssimo Eduardo, tem piada que essa hipótese foi comentada na sexta-feira passada com o responsável pelo sítio arqueológico de Panóias, o Dr. Orlando de Sousa, que me disse que era só telefonar a marcar com alguma antecedência. Como antes de Panóias fica o famoso solar de Mateus, acho que se podia incluir num itinerário de visita, embora me pareça que os ingressos aqui são um bocado caros (pertence a uma fundação privada). O ingresso em Panóias era de 1,25€, actualmente não sei quanto é. Em todo o caso teríamos ainda que acrescentar o custo do transporte colectivo. Como somos sempre muito poucos para organizar estas coisas, devolvemos o repto ao nosso consócio, caso nos queira ajudar a promover essa visita. Já agora gostávamos de saber quantos sócios (ou outras pessoas) haveria interessados, pelo que solicitamos, desde já, que nos contactem e apontem uma data mais conveniente para esta visita. Sendo do maior interesse a participação dos jovens, pensamos que não convirá realizar-se a visita na altura dos testes e de exames, ou seja, teria de ser antes de Junho. Ou então durante o período de férias, mas aí há que ter em conta o calor de Julho. Em último recurso, depois de Agosto, talvez no início do próximo ano lectivo. Digam-nos de vossa justiça.
Saudações associativas,
A Direcção do PARM

Anónimo disse...

Caros sócios do PARM

Na qualidade de responsável pelo Monumento e de sócio do PARM, desde já ofereço a minha disponibilidade para vos servir de cicerone numa visita, em data a marcar, e claro, dentro das minhas disponibilidades. A entrada custa 1,5 € para o visitante normal, sendo há a considerar os descontos. Haverá ainda que visitar o Museu de Arqueologia de Vila Real (municipal), e a Sé de Vila Real, também alvo de requalificação, para além das ruínas da Vila Velha, onde foram realizados trabalhos arqueológicos recentemente.Sugestões minhas, naturalmente, pois já que se irão deslocar a Vila Real, seria de aproveitar.
Aqui fica o repto, e estou ao dispôr para colaborar, na medida do possível, na organização dessas visita.

Anónimo disse...

Caríssimo Consócio, colega e Amigo Orlando Sousa,
A direcção do PARM regista e agradece a tua disponibilidade. Realmente é boa ideia integrar o Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real, a Sé e a Vila Velha no itinerário. Assim tirava-se o máximo partido da deslocação! (e já não falando do antigo Bairro dos Ferreiros, mas é melhor deixar o Ferro para outra "apanha", porque senão já começa a ser muita coisa). Obrigado pelas sugestões e proposta de colaboração desde já aceite. Vamos aferir da disponibilidade dos nossos consócios e ver a data mais conveniente. Abraço, em nome da Direcção,
Nelson.