sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Nova aquisição para a Biblioteca do Museu


O nosso caro consócio Dr. Orlando Sousa, acabou de oferecer um importantíssimo livro (em inglês) para a Biblioteca/Centro de Documentação do Museu do Ferro: De Re Metallica de Georgius Agricola. O nome original do autor era Georg Bauer (1494-1555), mas, como ainda período da renascença todos os livros científicos de projecção internacional eram escritos em Latim, também o seu nome foi traduzido do alemão (Bauer = Agricultor > Agricola).

Mas quem é Agricola? E porque este livro é importante?

Georg Bauer ou Georgius Agricola, como é mais conhecido, nasceu em Glauchau, na Saxónia e estudou medicina na Universidade de Leipzig, Bolonha e Pádua. Contudo, desde cedo se interessou pela geologia, paleontologia, mineralogia, mineração e metalurgia. Produziu uma bibliografia muito importante, interessante e, em muitos aspectos inovadora. Destacam-se entre as suas obras, o livro acima referido, sobre o qual nos alongaremos mais um pouco, mas também outras obras como:

- De Natura Fossilium
ou De Veteribus et Novis Metalus (considerado o primeiro grande trabalho sobre mineralogia; dai que Agrícola seja o "pai" da mineralogia);
- De Ortu et Causis Subterraneorum (em 5 livros ou capítulos. É constituído por perspectivas do autor sobre fenómenos geológicos, onde faz variadas críticas aos autores antigos/clássicos);
- Bermannus (obra que consiste num diálogo entre duas personagens sobre a Mineração);
- Rerum Metallicarum Interpretatio (listagem de equivalência, em várias línguas, de termos metalúrgicos);
- De Mensuris et Ponderibus (obra sobre pesos e medidas gregos e romanos);
- Dominatores Saxonici a prima origine ad hanc aetatem;
- De natura eorum quae effluunt e terra;
- Glaucii Libellus de prima ac simplici institutione grammatica (Gramática de Latim; é possível que também tenha escrito uma gramática de grego);
- Deum non esse auctorem Peccati e Religioso patri Petri Fontano, sacre theologie Doctori eximio Geogius Agricola salutem dicit in Christo (livros de cariz teológico);
- Galeni Librorum (sobre a obra do autor grego Galeno);
- De Bello adversus Turcam (Tratado político sobre a guerra com os Turcos);
- De Peste (sobre um tema recorrente no ocidente - a Peste e outras pragas análogas);
- De Medicatis Fontibus (fontes medicinais);
- De putrdine solidas partes humani corporis corrumpente (sobre Medicina);
- Castigationes in Hippocratem et Galenum (sobre medicina e os autores clássicos);
- Tipographia Mysnae et Toringiae;
Existem ainda outros trabalhos menores e alguns erroneamente atribuídos a Agrícola.

No que concerne ao presente Tratado De Re Metallica, foi publicado originalmente em 1556.
A edição que nos foi gentilmente oferecida é uma reprodução de uma tradução americana de 1912 (não existe tradução em português), editada em livro em 1950, e que tem vindo a ter sucessivas reimpressões. O autor da tradução é Herbert Clark Hoover (31º Presidente dos Estados Unidos da América, e Engenheiro de Minas de formação) e sua mulher Lou Henry Hoover. Esta obra trata dos metais, particularmente da mineração, metalurgia do ouro, prata, ferro, chumbo, estanho e outros metais, bem como, processos associados, como é o caso da exploração e tratamento do sal para a balística.
O tratado é constituído por 12 livros ou capítulos, contendo largas dezenas de ilustrações de elevado valor para conhecer melhor os processos técnicos. Algumas dessas ilustrações poderão ser vistas na exposição permanente do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, exactamente para descrever os processos de fundição possivelmente utilizados na nossa região desde a Idade Média até ao dealbar do séc. XIX, com o caso paradigmático da Chapa-Cunha de Mós (de que poderão ver imagens em post's anteriores deste blog).

Uma nota final para referir que este não é o primeiro tratado de mineração e metalurgia, sendo conhecidos outros anteriores como o De la Pirotechnia de Biringuccio, mas este é sem dúvida um dos mais importantes, senão o mais importante, nomeadmente para conhecer os processos técnicos do período anterior à Revolução Industrial, que irá modificar profundamente a metalurgia e, em particular a Metalurgia do Ferro.

Eis, assim, mais uma boa razão para visitar o Museu do Ferro & da Região de Moncorvo e o nosso Centro de Documentação.

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Links a consultar, para mais informações:

http://en.wikipedia.org/wiki/De_re_metallica
http://en.wikipedia.org/wiki/Georg_Bauer
http://archimedes.mpiwg-berlin.mpg.de/cgi-bin/toc/toc.cgi?step=thumb&dir=agric_remet_001_la_1556
http://historiadageologia.blogspot.com/2006/04/de-re-metallica-agricola-comemorao.html
http://www.robertsongeoconsultants.com/rgc_images/pages/metalica.asp

Recensão bibliográfica e selecção de links, pelo sócio Rui Leonardo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PARTIDELA DE AMÊNDOA NO MUSEU DO FERRO - NOVO SUCESSO!

Foto de António Basaloco

Conforme anunciámos no post anterior, realizou-se no passado Sábado, no auditório do Museu do Ferro, a 5ª Partidela Tradicional da Amêndoa, em que procurámos recriar um momento característico desta fase do ano, nas nossas terras.

Foto de A. Basaloco
Cerca de uma centena de pessoas de todas as idades, sem distinções sociais, não só de Torre de Moncorvo e do seu concelho, mas também do Porto e da zona da Régua, vieram à "Partidela" ou "partição" deste ano. Destacamos a participação da Srª. Drª Helena Gil (Directora Regional da Cultura do Norte) e marido, que vieram de Vila Real, e da Srª. Drª. Maria do Céu Esteves, Presidente da Associação de Amigos do Museu do Douro, que nos quiseram também honrar com a sua presença, e se saíram muito bem no manejo do ferrinho com que se parte a amêndoa.
VER O LINK para a ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO MUSEU DO DOURO, clicando sobre este endereço electrónico: http://www.museudodouro.pt/destaques_amigos,0,128.aspx

Foto de N. Campos

O momento musical, avidamente registado pelo distinto etnomusicólogo Mário Correia (organizador do festival intercéltico de Sendim), ficou a cargo da Tuna dos amigos da Lousa, que abrilhantaram o evento com a sua mestria.


Foto de N. Campos

No final, tal como depois dos feitos guerreiros da tribo do Asterix, tivemos um repasto composto por produtos da terra, generosamente oferecidos pelo comércio e produtores do concelho de Torre de Moncorvo, a quem muito agradecemos.

Foto de A. Basaloco


Agradecemos ainda ao S. Dr. Jorge Carqueja Rodrigues, da empresa Carqueja Almonds, neto e sucessor do grande empresário de frutos secos, Sr. Gualdino Carqueja (Felgar), que nos ofereceu um lote de livros de sua edição, sob o título "A Amêndoa na doçaria tradicional", com prefácio de sua mãe, a Srª Drª. Maria da Assunção Carqueja Rodrigues. Esta obra pode ser pedida directamente à empresa editora (229413619), ou ao Museu do Ferro & da Região de Moncorvo (279252724).



Para saber mais, sobre esta actividade, pode ver a notícia no jornal "Nordeste", clicando sobre os links:

1 - Jornal "Nordeste" (28.10.2008): http://www.jornalnordeste.com/index.asp?idEdicao=240&id=10466&idSeccao=2227&Action=noticia

2 - "Terra Quente" (4.11.200): http://www.imprensaregional.com.pt/jornal_terra_quente/index.php?info=YTozOntzOjU6Im9wY2FvIjtzOjExOiJub3RpY2lhX2xlciI7czoxMDoiaWRfbm90aWNpYSI7czozOiI0MTEiO3M6OToiaWRfc2VjY2FvIjtOO30=

3 - "Mensageiro Notícias" (7.11.2008) - reportagem muito completa, a não perder! : http://www.mensageironoticias.pt/noticia/978

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

5ª. Partidela Tradicional da Amêndoa

Informamos todos os interessados que se realizará, no próximo sábado, dia 25 de Outubro, a 5ª Partidela Tradicional de Amêndoa, com início pelas 15;30 horas, no auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo. Este anos contamos com a colaboração e presença da Associação de Amigos do Museu do Douro, sedeada em Peso da Régua, o que dará um alcance mais regional a este evento.



A sessão será animada com música tradicional, a cargo dos nossos amigos da Tuna da Lousa e arredores (sendo a maior parte dos artistas do lado Oeste do concelho de Torre de Moncorvo). Este grupo já actuou na Partidela de 2007, no passeio da Pascoela realizado em Março de 2008 e tem realizado vários concertos no concelho de Torre de Moncorvo e na região do Douro, sempre com enorme sucesso.

No final da actividade, haverá, como é da praxe, uma merenda composta por produtos da terra, tal como se servia dantes, ao final das “partidas” ou “partidelas” da amêndoa. Estes géneros são oferta de produtores e do comércio local, além de algumas pessoas particulares, a quem o Museu agradece o contributo e a boa vontade.



Como já informámos em edições anteriores, a “partição” ou “partida” da amêndoa, consistia na reunião das famílias, vizinhos e amigos, para, ao serão, durante as noites frias de Outono ou Inverno, se “entreterem” a quebrar a casca lenhosa das amêndoas, a fim de venderem o grão, pois assim era mais bem pago pelos negociantes de frutos secos. Era um momento de trabalho, mas também de confraternização e de amena cavaqueira.

Este sistema de entreajuda, um pouco na linha do comunitarismo transmontano, era sobretudo usado pelos pequenos e médios proprietários.

Os grandes proprietários, por seu lado, chamavam gente à geira, normalmente mulheres, para executarem esse trabalho, o qual era pago consoante os alqueires que enchiam, completamente a transbordar. Disso nos dá conta o escritor moncorvense Campos Monteiro (1876-1933) na sua novela “Tragédia de um coração simples, in Ares da Minha Serra (editada por volta de 1932):
“A partição da amêndoa, em casa da Srª D. Clotilde Paredes, começava por alturas das oito horas da noite e terminava infalivelmente às dez e meia (…) E toda a bendita noite, erguendo e descendo o braço, as mulheres despediam pancadas secas, separando as duas valvas da casca lenhosa de onde surgia, como pérola baça em concha de ostra, a semente oblonga e saborosa”.

É preciso recordar que boa parte do concelho de Torre de Moncorvo se situa na chamada Terra Quente Transmontana, com um microclima mediterrânico, onde se dão bem a vinha, a oliveira e a amendoeira. Esta última cultura, que é também responsável pelo cartaz turístico da Amendoeira em Flor, tem conhecido uma certa regressão nas últimas décadas, razão pela qual as “partidas” da amêndoa deixaram de se verificar. Já antes disso, as máquinas britadeiras tinham começado a substituir a mão humana.

No entanto, as memórias persistem, e o Museu do Ferro, querendo recuperar estas tradições e, simultaneamente, desenvolver uma certa “museologia de proximidade”, envolvendo pessoas de todas as idades e de diversas proveniências (habitantes locais e visitantes de outras paragens) volta a reeditar esta actividade, que já é um cartaz habitual, nesta época do ano, sempre com assinalável êxito!

Por motivos logísticos, agradecemos que nos confirme a sua inscrição para o telefone 279252724.


Venha reviver velhos tempos! - Contamos com a sua presença!!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Palestra sobre minas de ouro romanas, pelo Doutor Alexandre Lima (FCUP)

Realizou-se no passado dia 11 de Outubro, no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, mais uma palestra sobre temas geológico-mineiros, desta feita sobre minas de ouro romanas em Portugal, sendo apresentada pelo Doutor Alexandre Campos Lima, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

O professor fez-se acompanhar por um grupo de alunas de mestrado, tendo visitado previamente o Museu e as minas de Ferro de Moncorvo, passando pelo escorial de Lamelas.


A palestra teve lugar da parte da tarde, no auditório do Museu do Ferro. O Doutor Alexandre Lima fez uma abordagem geral das minas de ouro em Portugal, principiando de Sul para Norte, e apoiando-se quer no seu conhecimento de campo, quer na bibliografia disponível, de que salientou o estudo pioneiro de J. Silva Carvalho e O. da Veiga Ferreira, intitulado: “Algumas lavras auríferas romanas” (1954).

Quanto ao Sul de Portugal, foram referidas as minas de Canal Caveira, Aljustrel e S. Domingos (Mértola), localizadas “grosso modo” na faixa piritosa que se estende do Alentejo à Andaluzia. A oxidação dos sulfuretos à superfície originam os chamados “chapéus de ferro”, em cujas intrusões se formava o ouro. Por exemplo, nas famosas minas de Aljustrel (pirites) ainda se encontram alguns vestígios de “cortas” de exploração aurífera.

Outra forma de ocorrência do ouro é por deposição aluvionar, como acontecia na Adiça, na foz do Tejo, local já conhecido pelos romanos (sendo talvez a estas minas que se referiam os escritores latinos Justino e Estrabão), sabendo-se que ainda nos séculos XV e XVI aí se explorava ouro.

Outro caso de exploração aluvial é o das “conheiras” de Vila de Rei, em que os romanos desenvolveram complexas obras hidráulicas (com recurso a diques, aquedutos, levadas e poços), a fim de desagregar a rocha e recolher o ouro > sobre este assunto, ver artigo da revista National Geographic/Portugal, nº. de Abril de 2008,


No que respeita à região de Trás-os-Montes Ocidental, foram apresentadas imagens dos vestígios mineiros da zona de Boticas (Limarinho, Poço das Freitas, Batocas, castro de Sapelos, Lagoa do Brejo) e Jales-Três Minas (Vila Pouca de Aguiar), onde existiu um vasto complexo mineiro a céu aberto mas também com algumas galerias, que tem sido estudado nos últimos anos por equipas interdisciplinares da arqueólogos e geólogos. Como resultado deste trabalho, está a ser criado um centro interpretativo, podendo-se, desde já, fazer visitas guiadas, por marcação, junto do município de Vila Pouca de Aguiar.

O Doutor Alexandre Lima falou depois, mais desenvolvidamente, do complexo mineiro romano de Castromil, no concelho de Paredes, de que é o responsável, tendo principiado pelo enquadramento geológico, de que sobressai o anticlinal de Valongo, que principia a cerca de 16 km a Este da cidade do Porto até Castro Daire. É neste anticlinal se localizam as minas de Castromil e o complexo mineiro da Serra das Banjas. Este está inserido na faixa auro-antimonífera do Douro, sendo constituído por 6 concessões: Poço Romano, Ribeiro da Castanheira, Vale do Braçal, Vale Fundo, serra do Montezelo, vargem da Raposa e Serra do Facho.
No contexto geológico das Banjas/Castromil as mineralizações de ouro ocorrem em “armadilhas tectónicas”, nas charneiras das dobras, tendo os romanos efectuado a sua exploração em minas a céu aberto e subterrâneas. Nas galerias romanas encontram-se vários “lucernários”, que eram nichos onde se colocavam as “lucernas” (lamparinas de azeite) para iluminação. Infelizmente, muitos dos vestígios das explorações a céu aberto foram destruídos pela plantação de eucaliptos, como aconteceu em Montezelo, nos inícios dos anos 80. No entanto, foram ainda identificados muitos vestígios como aras romanas, moinhos de pilão, mós rotativas, vestígios cerâmicos, em muitos pontos desta região, os quais foram estudados por uma aluna de mestrado de geologia, actualmente a trabalhar na câmara municipal de Paredes.


Já no final, o Doutor A. Lima falou do “castro” de Senhora do Castelo do Urros e do Buraco dos Mouros (concelho de Torre de Moncorvo), baseando-se noutra tese de mestrado de autoria de Carla Martins. Na sua opinião, a mina do Buraco dos Mouros, uma pequena cavidade na vertente do “castro” de Srª. do Castelo (povoado fortificado da Idade do Ferro, com vestígios de romanização e do período medieval), teria a ver com a exploração aurífera, visto que o local se encontra na zona de charneira de uma dobra geológica, havendo também aqui intercalações de rocha negra, pelo que é possível que tenha havido precipitação de fluidos ricos em ouro.

Ainda no que respeita ao concelho de Torre de Moncorvo, sabemos que houve aproveitamento de ouro aluvial no rio Douro, no termo do Peredo dos Castelhanos (segundo fonte do século XVIII) e há notícia de uma importante mina de ouro entre o chafariz de Lamelas e o rio Sabor (segundo documentação do século XIX). - Em prospecções realizadas por uma equipa do PARM, em 2006, localizou-se uma escombreira de aspecto muito antigo no vale de Lamelas, junto de um valado actualmente preenchido por densa vegetação, local que merece ser estudado a fim de se avaliar do seu interesse. Estas informações foram comunicadas ao Doutor Alexandre Lima, que sugeriu a criação de uma equipa multidisciplinar formada por geólogos e arqueólogos para se levarem a cabo estes estudos, já que nem só de Ferro viveu o Homem nas terras de Moncorvo.
(Fotos PARM)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

7 de Outubro: Hoje é Dia dos Castelos!

Logo após a fundação da APAC (Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos - http://www.amigosdoscastelos.org.pt/) em 1983, foi instituído um Dia Nacional dos Castelos, celebrado pela primeira vez em 1984.

Inicialmente foi escolhido para as comemorações o primeiro sábado de Outubro, passando a ser uma data fixa (7 de Outubro) em 2003.

Desdo o iníco que a APAC celebra este dia em diversos castelos mais emblemáticos de Portugal, aproveitando a ocasião para divulgar e reflectir sobre a importância do património fortificado.

Por várias vezes recebemos em Torre de Moncorvo a visita de excursões organizadas de membros da APAC, enquadradas por elementos da Direcção, como ainda recentemente, em Março do corrente ano. Infelizmente, o facto de se ter demolido, no século XIX, o Castelo de Torre de Moncorvo, praticamente inviabiliza a possibilidade de termos aqui umas comemorações oficiais, pois falta-nos essa silhueta altaneira de torres e ameias que, se existisse, hoje era, sem dúvida, um trunfo poderoso, do ponto de vista turístico, aliado à imponente igreja matriz do século XVI-XVII.

Por isso, nesta data, chorando essa perda sobre o Muro das Lamentações (que parece ser o que resta da velha muralha virada à praça Francisco Meireles), aproveitamos para lembrar o nome de um homem que já nesse tempo, nos idos dos anos 40 do século XIX, ousou escrever uma carta à rainha D. Maria II protestando contra a barbaridade que se estava a cometer, responsabilizando pelo facto "cinco ignorantes indivíduos" (palavras suas) que compunham então a Câmara de Torre de Moncorvo... Estes defenderam-se com opções urbanísticas e até de salubridade, fundamentais à época, mas, a verdade é que, face ao que se perdeu, vistas as coisas hoje, no século XXI, e mais de 170 anos depois, o nosso defensor do Património tinha razão! - Por isso, e porque este terá sido um dos primeiros defensores do Património monumental em Portugal (tal como Alexandre Herculano), o seu nome merece ser aqui lembrado: JERÓNIMO JOSÉ DE MEIRELLES GUERRA.

É nossa intenção adoptar este moncorvense como patrono de uma célula local da APAC que tencionamos criar, tendo em vista a valorização do Castelo de Torre de Moncorvo, cujo projecto de musealização a autarquia pretende candidatar ao QREN, depois das escavações realizadas desde os finais dos anos 80. Mas o concelho de Torre de Moncorvo possui ainda outras fortificações medievais que merecem ser lembradas e que são as ruínas de Santa Cruz da Vilariça (conhecidas por Vila Velha ou Derruída) e alguns vestígios do castelo de Mós.

Sugerimos aos nossos associados e outros interessados, nesta data ou logo que possível, uma visita a estes locais. Se quiserem saber mais, dirijam-se à nossa sede provisória, agora no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo.

Aqui ficam algumas fotos das ruínas do Castelo de Torre de Moncorvo, construído no século XIV no ponto mais vulnerável da cerca (ou fortaleza) mandada construir por D. Dinis, pouco antes de 1295 (relembramos que o foral moncorvense é de 1285):

Pano lateral da muralha do Castelo propriamente dito, a qual foi rebaixada e aterrada, construindo-se depois, num dos lados, o actual edifício dos Paços do Concelho. Vê-se ainda, de lado, o arranque do arco de uma das Portas da Vila, de onde seguia a cerca que protegia o bairro do Castelo.

Muralha da cerca e parte do muro do Castelo (alcáçova), vendo-se o que resta de um cubelo. A porta ao fundo corresponderia à chamada "porta da traição".

Ruínas da alcáçova (zona residencial do alcaide/castelão), no interior do castelo. Estas edificações teriam sido destruídas e soterradas no séc. XIX e começaram a ser escavadas no final dos anos 80, sob indicação do IPPC e sob responsabilidade do município de Torre de Moncorvo e do PARM (direcção técnica e científica). Os trabalhos arqueológicos foram retomados em 2001 pela empresa ArqueoHoje, com patrocínio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo.

Arco da Senhora dos Remédios, a única porta da cerca da vila que subsistiu, graças ao facto de se ter colocado uma capela sobre o arco. Do lado direito, vê-se o que resta de um bastião tronco-cónico em alvenaria de xisto.

A antiga muralha da cerca medieval protegia o burgo intra-muros. Mais tarde, posteriormente ao século XVI-XVII, novas casas se foram encostando ao lado exterior da muralha. Durante obras de demolições e reconstruções, a muralha lá aparece. Em raras situações a sua alvenaria é deixada à vista, dependendo da sensibilidade dos proprietários...


Vestígios da muralha e de um cubelo, na R. Tomás Ribeiro, ainda com significativa altura. Parte deste cubelo foi destruído em obras realizadas nos anos 80, o que motivou um embargo de obras. Actualmente a reconstrução de um novo edifício foi permitida, sob certas condições. - Não é fácil nem pacífica a coexistência das populações com estes vestígios do passado colectivo...

Fotos: PARM



segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Palestra no Museu



Caros sócios do PARM, amigos do Museu e frequentadores deste blog,

No seguimento das actividades geológicas que têm sido promovidas, no decorrer deste ano, pelo Museu do Ferro & da Região de Moncorvo e pelo PARM, vimos convidá-los para mais uma actividade inserida neste âmbito. Trata-se de uma palestra, dedicada à Mineração aurífera romana em Portugal, que será proferida pelo Prof. Doutor Alexandre Campos Lima, docente do departamento de Geologia na Faculdade de Ciências da Unversidade do Porto, no próximo Sábado, dia 11, no Auditório do Museu do Ferro.

Contamos com a vossa presença!