segunda-feira, 28 de abril de 2008

Escorial de S. Pedro (Mós) - revolvimento profundo


Uma das marcas mais características da actividade metalúrgica de produção de ferro, no concelho de Torre de Moncorvo são os escoriais. As escórias eram a parte rejeitada no processo de fundição, por aí se concentrarem mais elementos não ferrosos e bolhas de ar.

Escoriais de ferro, em redor da Serra do Roboredo. A seta indica o escorial de S. Pedro (mapa disponível no Museu do Ferro, public. no respectivo Catálogo, edit. em 2002)

Em redor da serra do Roboredo e em certas povoações como Felgueiras, Felgar, Souto da Velha, Carviçais e Mós, são frequentes estas concentrações de escórias de ferro, chamadas popularmente "escouradais". É de supor que nesses locais, no subsolo, se encontrem alicerces de fornos de fundição e outros vestígios, pelo que foram incluídos, há anos, no inventário do património do concelho de Torre de Moncorvo.

Terreno onde se encontrava o escorial, agora revolvido. Ao fundo encontra-se a capela de S. Pedro (fotografia de João Pinto V. Costa)

Um desses escoriais era o que se encontrava próximo da capela de S. Pedro, freguesia de Mós, num terreno onde estava um amendoal. Passando recentemente pelo local, vimos que este tinha sido completamente surribado, pelo que todo o subsolo foi afectado, perdendo-se irremediavelmente toda a informação arqueológica eventualmente existente.

Algumas escórias de ferro ainda visíveis no terreno (foto de João P. V. Costa)


Embora não sabendo a cronologia de muitos desses escoriais, sabemos que são anteriores ao séc. XIX, pois a actividade metalúrgica ancestral terá terminado, na nossa região, nos fins do séc. XVIII, com a expansão da Revolução Industrial em Inglaterra e, depois, nos países mais desenvolvidos da Europa.
No caso de Mós, sabemos que a exploração do ferro remonta, pelo menos, ao século XVI, pois que o Dr. João de Barros, na sua Geografia de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes (1549), refere aí o fabrico do ferro, com o pormenor curioso de as mulheres estarem a dobar e a fiar nas suas rocas (com as mãos), e ao mesmo tempo, tangerem "com os pés os folles, enquanto os maridos fazem o ferro".

Por este motivo, e já que aqui "o ferro é a alma da terra", impõe-se a classificação urgente de todos os escoriais de ferro como Valores Concelhios, após a definição das respectivas áreas de dispersão de vestígios.

3 comentários:

vasdoal disse...

Parabéns por este excelente espaço de informação e pela qualidade dos trabalhos - quiçá um contributo que desincentive a destruição de um património que ainda vai dando identidade a cada vez menos espaços do território.

Tive um enorme prazer em conhecer Mós e fazer a reportagem fotográfica. Enquanto fotografava aquelas pedras, lembrava-me da recuperação de uma aldeia tradicional em Xinzo de Limia,na Galiza. Mas ....

Anónimo disse...

Caríssimo VasdoAl,
Obrigadíssimo pelo apoio, e também pela tua colaboração. Cá vamos fazendo os possíveis, nesta luta que deveria ser de todos, sob pena de vivermos cada vez mais num mundo incaracterístico e sem referências. Sendo certo que esse património pode ser uma fonte de rendimentos, em primeira instância, para as populações locais. Mas como se podem convencer disso?? Em terras "onde não acontece nada" parece que se anseia por "acontecimentos". E o "acontecimento" é a pequena ou grande alteração que modifique o que está, não importa o quê nem como. E quanto mais radical melhor... Dantes fazia-se a "maison", porque era uma forma de afirmação social e de ruptura com um passado familiar de miséria. Hoje, ainda timidamente, parece que se começa já a gostar da casa de pedra, embora ainda haja algumas arestas a limar no processo. Mas "a casa" é apenas um elemento de um todo. Esse todo é a textura urbana, o traçado das ruas, o pavimento rochoso ou de calçada tradicional que não tem nada a ver com os célebres "paralelos" (impropriamente dita calçada à portuguesa, pois parece ser moda importada de França do séc. XIX), enfim, há a considerar o equilíbrio e a harmonia do conjunto.
Seria interessante arranjares mais elementos sobre essa recuperação que referes d Xinzo de Limia. Por cá temos bons exemplos nas chamadas Aldeias do Xisto, na zona de Castelo Branco. Existe aí já uma Rota das Aldeias do Xisto, que, inclusive, tem uma revista com essa designação. O projecto, que benificiou de amplos apoios comunitários, foi coordenado pela associação Pinus Verde. Acho que podíamos juntar tudo isto e tentar uma acção pedagógica junto de quem de direito, de forma a que as pessoas percebessem que há alternativas... O objectivo central da Pinus Verde, é a procura de um modelo de sustentabilidade, procurando contrariar a desertificação. Eles lá têm uma vantagem: estão um pouco mais perto de Lx., e tiveram alguns políticos a puxar para lá (acho eu), a começar pelo ex-P.M. A. Guterres... Mas, por vezes, o factor "distância" que é um ponto fraco, pode ser transformado em ponto forte, do mesmo modo que se proclamou o "small is beautifull", pode-se proclamar o "far way is more beautifull"... ou seja, explorar a ideia do "longe inóspito e desconhecido", alternativo ao mais que batido Alentejo (para os lisboetas), o mais que conhecido Gerês (para os urbanos do Porto), para não falar da mais que gasta Serra de Sintra, por de mais cantada, desde o século XVIII de Byron, aos Eças e até ao sedentaríssimo F. Pessoa.
Talvez este comentário ao comentário devesse estar no "post" anterior, o referente à velha vila de Mós, mas foi aonde nos levaram as palavras.
Aquele abraço, cá da casa,
N.

Anónimo disse...

Foi com agrado que recebi algumas referências de residentes da aldeia de mós do vosso Blog, visto se encontrar em fase de divulgação um blog e site desta antiga aldeia e do Concelho de Torre de Moncorvo,
Considero que se faça uma divulgação do blog no nosso blog sem qualquer publicidade, nem aproveitamento.
Cumprimentos Webmaster