segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Palestra sobre minas de ouro romanas, pelo Doutor Alexandre Lima (FCUP)

Realizou-se no passado dia 11 de Outubro, no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, mais uma palestra sobre temas geológico-mineiros, desta feita sobre minas de ouro romanas em Portugal, sendo apresentada pelo Doutor Alexandre Campos Lima, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

O professor fez-se acompanhar por um grupo de alunas de mestrado, tendo visitado previamente o Museu e as minas de Ferro de Moncorvo, passando pelo escorial de Lamelas.


A palestra teve lugar da parte da tarde, no auditório do Museu do Ferro. O Doutor Alexandre Lima fez uma abordagem geral das minas de ouro em Portugal, principiando de Sul para Norte, e apoiando-se quer no seu conhecimento de campo, quer na bibliografia disponível, de que salientou o estudo pioneiro de J. Silva Carvalho e O. da Veiga Ferreira, intitulado: “Algumas lavras auríferas romanas” (1954).

Quanto ao Sul de Portugal, foram referidas as minas de Canal Caveira, Aljustrel e S. Domingos (Mértola), localizadas “grosso modo” na faixa piritosa que se estende do Alentejo à Andaluzia. A oxidação dos sulfuretos à superfície originam os chamados “chapéus de ferro”, em cujas intrusões se formava o ouro. Por exemplo, nas famosas minas de Aljustrel (pirites) ainda se encontram alguns vestígios de “cortas” de exploração aurífera.

Outra forma de ocorrência do ouro é por deposição aluvionar, como acontecia na Adiça, na foz do Tejo, local já conhecido pelos romanos (sendo talvez a estas minas que se referiam os escritores latinos Justino e Estrabão), sabendo-se que ainda nos séculos XV e XVI aí se explorava ouro.

Outro caso de exploração aluvial é o das “conheiras” de Vila de Rei, em que os romanos desenvolveram complexas obras hidráulicas (com recurso a diques, aquedutos, levadas e poços), a fim de desagregar a rocha e recolher o ouro > sobre este assunto, ver artigo da revista National Geographic/Portugal, nº. de Abril de 2008,


No que respeita à região de Trás-os-Montes Ocidental, foram apresentadas imagens dos vestígios mineiros da zona de Boticas (Limarinho, Poço das Freitas, Batocas, castro de Sapelos, Lagoa do Brejo) e Jales-Três Minas (Vila Pouca de Aguiar), onde existiu um vasto complexo mineiro a céu aberto mas também com algumas galerias, que tem sido estudado nos últimos anos por equipas interdisciplinares da arqueólogos e geólogos. Como resultado deste trabalho, está a ser criado um centro interpretativo, podendo-se, desde já, fazer visitas guiadas, por marcação, junto do município de Vila Pouca de Aguiar.

O Doutor Alexandre Lima falou depois, mais desenvolvidamente, do complexo mineiro romano de Castromil, no concelho de Paredes, de que é o responsável, tendo principiado pelo enquadramento geológico, de que sobressai o anticlinal de Valongo, que principia a cerca de 16 km a Este da cidade do Porto até Castro Daire. É neste anticlinal se localizam as minas de Castromil e o complexo mineiro da Serra das Banjas. Este está inserido na faixa auro-antimonífera do Douro, sendo constituído por 6 concessões: Poço Romano, Ribeiro da Castanheira, Vale do Braçal, Vale Fundo, serra do Montezelo, vargem da Raposa e Serra do Facho.
No contexto geológico das Banjas/Castromil as mineralizações de ouro ocorrem em “armadilhas tectónicas”, nas charneiras das dobras, tendo os romanos efectuado a sua exploração em minas a céu aberto e subterrâneas. Nas galerias romanas encontram-se vários “lucernários”, que eram nichos onde se colocavam as “lucernas” (lamparinas de azeite) para iluminação. Infelizmente, muitos dos vestígios das explorações a céu aberto foram destruídos pela plantação de eucaliptos, como aconteceu em Montezelo, nos inícios dos anos 80. No entanto, foram ainda identificados muitos vestígios como aras romanas, moinhos de pilão, mós rotativas, vestígios cerâmicos, em muitos pontos desta região, os quais foram estudados por uma aluna de mestrado de geologia, actualmente a trabalhar na câmara municipal de Paredes.


Já no final, o Doutor A. Lima falou do “castro” de Senhora do Castelo do Urros e do Buraco dos Mouros (concelho de Torre de Moncorvo), baseando-se noutra tese de mestrado de autoria de Carla Martins. Na sua opinião, a mina do Buraco dos Mouros, uma pequena cavidade na vertente do “castro” de Srª. do Castelo (povoado fortificado da Idade do Ferro, com vestígios de romanização e do período medieval), teria a ver com a exploração aurífera, visto que o local se encontra na zona de charneira de uma dobra geológica, havendo também aqui intercalações de rocha negra, pelo que é possível que tenha havido precipitação de fluidos ricos em ouro.

Ainda no que respeita ao concelho de Torre de Moncorvo, sabemos que houve aproveitamento de ouro aluvial no rio Douro, no termo do Peredo dos Castelhanos (segundo fonte do século XVIII) e há notícia de uma importante mina de ouro entre o chafariz de Lamelas e o rio Sabor (segundo documentação do século XIX). - Em prospecções realizadas por uma equipa do PARM, em 2006, localizou-se uma escombreira de aspecto muito antigo no vale de Lamelas, junto de um valado actualmente preenchido por densa vegetação, local que merece ser estudado a fim de se avaliar do seu interesse. Estas informações foram comunicadas ao Doutor Alexandre Lima, que sugeriu a criação de uma equipa multidisciplinar formada por geólogos e arqueólogos para se levarem a cabo estes estudos, já que nem só de Ferro viveu o Homem nas terras de Moncorvo.
(Fotos PARM)

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado pela notícia, que conta com rigor na generalidade, a nossa visita a´s Terras de Moncorvo.

Alexandre Lima