segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Vandalismo em redor da igreja matriz de Torre de Moncorvo

A igreja matriz de Torre de Moncorvo, monumento nacional desde 1910, é, justamente, o ex-libris desta vila. Uma obra grandiosa que custou um esforço colossal aos nossos antepassados, que carregaram alguns milhares de toneladas de pedras de granito, desde pedreiras algo distantes, localizadas algures no termo do Larinho, com os meios rudimentares da época (carros de bois), e as esculpiram à mão, com o saber e a arte de homens que tiveram uma longa aprendizagem, normalmente passada de pais para filhos ou de mestres para discípulos.
Por tudo isto, independentemente do aspecto religioso, este monumento deveria merecer-nos o maior RESPEITO. Todavia, infelizmente, como bem diz o nosso conterrâneo e Amigo, Professor Rentes de Carvalho, parece que o respeito morreu, ou, no mínimo, se "acanalhou" (ver, a propósito: http://tempocontado.blogspot.com/2009/08/respeitinho.html)

Vem este arrazoado a propósito dos diversos atentados de que a nossa igreja tem sido vítima. Há uns anos a esta parte, são os "graffitis" nas traseiras, cujos casos já têm culminado em Tribunal, dando lugar depois a complexas e dispendiosas operações de remoção. Tudo isto porque há quem não se preocupe em vender latas de tinta em spray a adolescentes "inconscientes" e, por outro lado, estes, parece que cada vez mais inconscientes e desresponsabilizados, não encontram melhor lugar do que este para escreverem o que lhes vem à cabeça.

Mas, para além dos "graffitis", agora são também os elementos escultóricos que são atingidos. No ano passado (2008) foi atirado abaixo um pináculo rematado por uma bola de pedra, tendo partido, ao cair. alguns degraus das escadas de acesso ao adro, próximo da fachada principal.
Mais recentemente, a empresa que fez a obra de rectificação do adro do lado Poente, deixou outros pináculos e respectivos remates esféricos em granito, encostados às traseiras da igreja. Os jovens noctívagos não encontraram melhor passatempo do que rolar as bolas de pedra pelas ruas da vila, obrigando posteriormente à sua recolha no alpendre do lado Sul.
No entanto, como parece que não houve quem tivesse solicitado à dita empresa o resguardo dos ditos elementos escultóricos, temporariamente retirados dos seus locais próprios, para onde ninguém lhes mexesse (como p. ex. o referido alpendre do lado Sul), era facilmente previsível que a sanha vandálica se viesse a exercer sobre estas peças. Resultado: foi há dois dias partido um dos pináculos, o mesmo podendo acontecer com os dois restantes.
De resto, parece que a falta de cuidado da empresa que executou a obra (muito deficientemente, diga-se de passagem), já tinha estropiado a extremidade de um dos remates triangulares de um dos pináculos.
A peça derrubada acabou por partir-se em três fragmentos, sendo agora praticamente impossível de se emendar, pelo que a solução terá de passar pela substituição da peça antiga por uma nova, sem valor histórico. É caso para se dizer que em Portugal, onde não houve guerras com a violência da Guerra Civil espanhola, nem fomos atingidos pelas Guerras Mundiais, conflitos que lesaram gravemente o património do resto da Europa, a pontos de serem poucos os monumentos que possuem integralmente originais, nós por cá, não tendo isso, temos em contrapartida a ignorância e a falta de cidadania de um povo que não estima nem ama o seu Património.
E quando julgávamos que as gerações mais novas poderiam ter outra atitude, deparamo-nos com estas tristes situações.
Há ainda os vidros de garrafas partidos, juncando o adro, a urina e a conspurcação pelos cantos.
Defendemos, em dado momento, que uma forma de animar o Centro Histórico seria a abertura de bares e cafés, com respectivas esplanadas, que atraísse gente, nomeadamente juventude para estas zona, como víramos em outras cidades europeias e peninsulares (p. ex. Salamanca, Santiago de Compostela, etc.). Hoje estamos a pontos de rever essa nossa ideia e a confessar a nossa desilusão, quando constatamos o impacto negativo que está a acontecer no Património e no asseio das vias públicas, para além do adro da igreja.

Na ausência de civilidade, é caso para se perguntar: por onde andam as autoridades?
Sendo certo que não é com repressão que se resolvem estes problemas, mas sim através do processo educativo (que começa em casa) e pela consciencialização progressiva, não deixa de ser também verdade que uma maior vigilância poderia dissuadir certo tipo de desacatos e de "divertimentos"...
Talvez também seja necessário rever os horários destes bares, nesta zona.

Bem perto deste muro do adro há caixotes metálicos onde se poderiam meter as garrafas vazias (algumas ainda semi-cheias). Fica o apelo aos jovens: será que é muito difícil meterem este vasilhame nos ditos contentores?

Por outro lado, não seria melhor acariciar as pedras antigas, em vez de as deitarem abaixo, deixando cicatrizes insanáveis em degraus desgastados pelo tempo e pelos milhões de pés que por eles passaram, dando-lhes precisamente esse valor histórico que lhes vem da sua antiguidade?
O que temos agora são pedras magoadas, como magoadas são estas nossas palavras, ao constatarmos esta falta de respeito pelo que é nosso, pelo que é de todos, pelo monumento mais importante que sempre deu carácter a esta vila...
Fica o apelo: divirtam-se, mas sem estragar! Respeitem um Património que é vosso também, Ok?

2 comentários:

Lopes disse...

Pelo que vejo existe pessoas que se divertem a destruir o que com os suor de outros levou tempo a construir, enfim para além de pela net se divertirem agora divertem-se a vandalizar o que é de todos.

Ventos de mudança, talvez ou ventos de desrespeito pelo outros.

Lopes

Anónimo disse...

Só agora dou conta deste post - e bem triste fico. Triste, magoado e profundamente revoltado porque do muito da vida que essas pedras e esses lugares significam para todos nós ( que honramos as nossas raízes e o nosso torrão, vivamos nele ou não vivamos) parece que nada significam para uns quantos. Sinais dos tempos, diz Lopes. Tristes sinais do desenraizamento e do desprezo, triste sinais de falta de educação - tristes e lúgubres sinais para o futuro.
Daniel de Sousa