Esta foi uma das primeiras imagens tiradas pela sonda Curiosity's (Curiosidade), da NASA, que pousou em Marte na noite de 5 de Agosto PDT (=manhã de 6 de agosto EDT). - Desde esse momento, a referida sonda, instalada num veículo (Rover), continua a enviar imagens.
Não é, no entanto, a primeira foto que se obtém do solo marciano, pois desde há muitos anos que outras sondas (a partir das Mars 2 e 3, da antiga URSS) captam imagens da superfície do chamado planeta vermelho, seja a partir do ar, seja no solo. Àparte a colisão (como Mars 2) ou o esgotamento de baterias, esses objectos humanos que já conspurcam o solo marciano, tínhamos ainda uma superfície virgem, de um planeta com biliões de anos de História (com ou sem seres vivos). Agora, a nova sonda, acrescentará algo mais nesse conceito de pegada humana: os trilhos do seu rodado e o esgadunhamento para recolha de amostras. É claro que as tempestades de poeiras em breve apagarão esses trilhos e essas marcas. Nada de grave, portanto, se ficassemos por aqui, uma vez satisfeita a Curiosidade (Curiosity). Mas, no cenário que muitos defendem (os anjos do deus Progresso), de montar colónias em Marte e proceder à sua "terraformação" (conceito que quer dizer: alterar a atmosfera de Marte, derretendo os gelos que se crê estarem sob as poeiras, daí libertando àgua, e, a partir desta, replicar a atmosfera terrestre), teremos, então, mais outro planeta estragado. Porque o Homem ao "evoluir" para uma matriz civilizacional de tipo urbano, assente na exploração intensiva de recursos (extracção de minerais, etc.), em que se concebe a Natureza como algo que deve estar ao serviço do Homem, e não como espaço de equilíbrio ecossistémico de que o Homem é apenas um elemento, acabou por gerar índices de antropização que se comprazem na anulação das paisagens e superfícies naturais, modeladas apenas pelos elementos/fenómenos telúricos/atmosféricos.
Assim, contemplar essa superfície intocada de Marte, uma paisagem virgem de um planeta virgem, é observar uma paleopaisagem ausente de Humano - onde o Tempo obrou, mas sem que alguém o percepcionasse (na convicção de que nunca houve formas de vida inteligentes, ou, no mínimo, com capacidade de apreensão das dimensões Espaço/Tempo, apenas - que se saiba - concebíveis pelo bicho-Homem). A grande questão é saber se se deve ou não continuar esse percurso natural, a-histórico, ou, pelo menos de um Histórico monitorizado e percepcionado à distância de uns 60 milhões de Km (distância de Marte à Terra, na sua maior aproximação, ou de 360 milhões na elíptica maior), ou não.... E a questão subjacente é se o conceito de facto arqueológico se pode aplicar à paisagem intocada (depois de transformada), ou se é apenas inerente ao aparecimento do artefacto, ou arte-facto, ainda que sejam "malas artes" disruptivas de equilíbrios absentes de Humano, gerando mutações topográficas e paisagísticas, pontuadas por construções e acumulações (mais ou menos estratigrafadas) de outros elementos de "cultura material". E ainda, se o ser consciente deve ter um pensamento crítico sobre os limites da intervenção humana, ou se deve ser peça dessa engrenagem tenebrosa, vivendo, no final da cadeia, do "estudo" (por vezes bem remunerado) dessas transformações geradas pelo sistema da máquina civilizacional do Homo Faber, desculpabilizando a consciência com o estômago cheio... - São as reflexões que esta imagem do dia nos suscita...
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- Para saber mais, ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marte_(planeta) e http://www.nasa.gov/
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Txt.: N.Campos
Foto/Image credit: NASA/JPL-Caltech
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terça-feira, 7 de agosto de 2012
olá Marte, chegámos !?...
Etiquetas:
Arqueologia espacial,
Ciência,
Património Natural,
Reflexões
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